quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ele não queria mais

Não queria mais olhar aqueles olhos tão profundos e intrigantes, ele não queria.
Ele não queria mais sentir aquele perfume suave, nem sentir mais aquele pele macia...
Ele não queria, não queria mais ver o sorriso bobo, nem o olhar sério, nem escutar a voz que tanto o agradava...
Não queria mais sentir os dedos dela pelo cabelo dele.

Porque ele queria tranqüilidade... ele não queria surpresas, nem emoções fortes demais
Ele sempre foi precavido, sempre seguiu uma rotina, planejou tudo na vida.
Mas aquelas sensações intensas, aquelas sensações eram imprevisíveis, e ele não esperava sonhar com ela, não esperava ter tanta saudade, não planejou nada daquilo.

Ela era uma inimiga, ela trazia a vida dele o inesperado.
Muitas vezes ele sério, explicando coisas que ele de fato encarava como importante, era supreendido por uma gargalhada dela e um "Porque você se preocupa com essas coisas?"
Para ele tudo tinha uma explicação matemática, e era preciso entender o mundo para entender a si mesmo. Ela sabia que não precisava disso tudo. Era só olhar pra si mesmo, de vez em quando, não o tempo todo, afinal, olhar pra si mesmo é sinal de narcisismo, e ela achava isso muito desumano.

Ele observava o mundo e o explicava, acreditava até que o havia desvendado. Ela olhava o mundo, com um olhar de admiração, ou de espanto. E nunca esperava pelos acontecimentos, era sempre surpreendida. E ele dizia "Isso não me espanta".
Ele queria se livrar daquela maneira desligada e despreocupada dela. Ela era um peso que ele carregava por apego a sensação de fuga que os momentos com ela o proporcionava, não fuga de um lugar, mas de uma condição mental que era o apoio dele, era a tranqüilidade, mas faltava-lhe os sentidos... ela brincava com os sentidos dele. Brincava também com todos os ideais que por ele foram pensados e repensados.
Ele imaginava que ela gostava disso tudo, de perturbá-lo, de tirá-lo do chão e confundir o caminho.
Ele não queria mais isso. Ele queria ter de novo a vida planejada, tudo bem organizado, sem surpresas, sem alarmes...
Ele era muito medroso... sabia que a vida podia doer...
Ele havia decidido, isso iria acabar, hoje!

--- De repente, ela entra, sem bater a porta, com um sorriso de criança no rosto, e lhe dá um abraço quente e apertado ---

E as sensações voltam, e ele simplesmente esquece que não queria mais isso...