terça-feira, 28 de maio de 2013

Tentando ser eu...

Bom...tudo isso começou com uma peça de teatro que assisti com meu marido. Nela haviam trechos de textos da Clarice Lispector, e a parte que mais mexeu comigo era essa do "Se eu fosse eu"... e eu pensei muito que eu não tenho sido eu mesma.

Se eu fosse eu, eu iria brincar mais, eu iria ter atitudes positivas, ajudaria pessoas, ficaria mais tempo com meus amigos. Eu mudaria de vida... de verdade eu mudaria. Eu não me importaria com o que os outros dizem ou pensam, eu ia falar o que penso, mesmo sabendo que não é usual.  Eu cantaria mais, e mais alto. Dançaria mais. Terminaria a faculdade. Faria melhor no meu trabalho. Ficaria mais com minha família. Faria mais loucuras. Viajaria mais.

Ah... se eu fosse eu, eu seria espetacular. Teria uma vida saudável, mas cometeria alguns exageros vez ou outra. Seria ativa, e teria mais iniciativa. Seria ousada!

Decidi começar a ser eu. Começo por fazer o bem, por agir.

Já comecei... e pretendo ir longe, bem longe, até onde eu puder ir, até descobrir de verdade quem eu verdadeiramente sou!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Se eu fosse eu...

"Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir. E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente devida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo,que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro."Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais"


(Texto extraído do livro A Descoberta do Mundo, Clarice Lispector, editora Rocco, pg. 156).