Bom...tudo isso começou com uma peça de teatro que assisti com meu marido. Nela haviam trechos de textos da Clarice Lispector, e a parte que mais mexeu comigo era essa do "Se eu fosse eu"... e eu pensei muito que eu não tenho sido eu mesma.
Se eu fosse eu, eu iria brincar mais, eu iria ter atitudes positivas, ajudaria pessoas, ficaria mais tempo com meus amigos. Eu mudaria de vida... de verdade eu mudaria. Eu não me importaria com o que os outros dizem ou pensam, eu ia falar o que penso, mesmo sabendo que não é usual. Eu cantaria mais, e mais alto. Dançaria mais. Terminaria a faculdade. Faria melhor no meu trabalho. Ficaria mais com minha família. Faria mais loucuras. Viajaria mais.
Ah... se eu fosse eu, eu seria espetacular. Teria uma vida saudável, mas cometeria alguns exageros vez ou outra. Seria ativa, e teria mais iniciativa. Seria ousada!
Decidi começar a ser eu. Começo por fazer o bem, por agir.
Já comecei... e pretendo ir longe, bem longe, até onde eu puder ir, até descobrir de verdade quem eu verdadeiramente sou!
"É preciso força, pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê"
terça-feira, 28 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
Se eu fosse eu...
"Quando
não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me:
se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria?
Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu
fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar.
Diria melhor, sentir. E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como
seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em
que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se
acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser
elas mesmas, e mudavam inteiramente devida. Acho que se eu fosse realmente eu,
os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria
mudado. Como? Não sei.Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso
contar. Acho, por exemplo,que por um certo motivo eu terminaria presa na
cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao
futuro."Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de
viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de
que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim
a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do
mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos
por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso
adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti
sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande
demais"
(Texto extraído do livro A Descoberta do Mundo, Clarice
Lispector, editora Rocco, pg. 156).
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